Nathália Gravito,
aborda o tema “Desenvolvimento Infantil”, e o que a sociedade e a terapia
ocupacional influenciam neste aspecto. LEIAM ABAIXO A ENTREVISTA.
ENTREVISTA COM NATHÁLIA GRAVITO, TERAPEUTA OCUPACIONAL
ENTREVISTA COM NATHÁLIA GRAVITO, TERAPEUTA OCUPACIONAL
Sou Nathália Gravito, Terapeuta Ocupacional formada
pela Universidade Federal de Minas Gerais e Especialista em Saúde do Idoso pelo
programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Durante a graduação e na
Residência, meu olhar foi mais direcionado para a saúde da população idosa.
Esta é a minha área de preferência de atuação e de maior capacitação. Conclui a
Residência em março de 2016, atualmente trabalho na atenção domiciliar, onde a
maioria dos meus pacientes são idosos.
1 - Qual a intervenção da terapia ocupacional no atraso
desenvolvimento psicomotor?
Resposta: O atraso no desenvolvimento
psicomotor, geralmente reflete no desempenho ocupacional da criança, que deixa
de desempenhar seus papeis ocupacionais e tem sua participação restrita.
Portanto, o papel do Terapeuta Ocupacional é atuar, por meio de intervenções
reabilitadoras, adaptativas ou compensatórias, visando a restauração ou
manutenção das habilidades e capacidades funcionais, para melhor participação
da criança nas atividades de vida diária.
2 - De
que forma a terapia ocupacional intervém em crianças com idade escolar com um
baixo desempenho psicomotor visando aumentar seu rendimento escolar?
Resposta: Inicialmente, o Terapeuta Ocupacional
deve realizar uma avaliação para conhecer o desempenho real da criança no
contexto escolar, para que posteriormente, um plano de intervenção seja
traçado. Neste caso, o objetivo da intervenção seria otimizar o desempenho
desta criança em seu papel ocupacional de estudante. Devemos lembrar, que o
atraso no desenvolvimento psicomotor pode ter como consequência déficits
motores, sensoriais, e/ou cognitivos, que interferem diretamente no desempenho
funcional. Sendo assim, o foco pode ser na coordenação motora, no brincar, nas
atividades básicas de vida diária realizadas no contexto escolar, nas
atividades escolares motoras ou cognitivas, dentre outros, porém, isso é
variável entre os indivíduos, sendo a avaliação inicial essencial para guiar
nossa intervenção.
3 - Do ponto de vista da terapia
ocupacional, o que é o desenvolvimento motor e por que ele é importante para a
melhor compreensão das crianças?
Resposta: O desenvolvimento motor
ocorre durante todo nosso ciclo de vida, contudo, é na primeira infância que
estamos mais propensos a este desenvolvimento, considerando a maturação do
nosso sistema nervoso. Portanto, nesta fase da vida, a criança conhece o mundo
por meio da experimentação, que ocorrem em sua maioria, por meio do brincar.
Uma criança que é exposta diariamente aos estímulos ambientais e é estimulada
em casa, apresenta um perfil de desenvolvimento diferenciado de uma criança
que, por exemplo, é privada de estímulos sensoriais. Sendo assim, é de extrema
importância acompanhar os marcos do desenvolvimento, em especial, na primeira
infância para avaliar a evolução das crianças, para verificar se há ou não a
necessidade de intervenção profissional.
4 - Quais motivos podem levar um
paciente pediátrico com atraso no desenvolvimento motor procurar um tratamento
da terapeuta ocupacional?
Resposta: Uma criança com
atraso no desenvolvimento pode apresentar alguma limitação funcional que
interfere ou irá interferir futuramente em seus papeis ocupacionais. Sendo
assim, é possível realizar uma intervenção precoce (com crianças prematuras,
por exemplo), visando estimular seu desenvolvimento psicomotor.
5 - No ponto de vista da terapia
ocupacional, como a tecnologia pode atrapalhar o desenvolvimento
psicomotor?
Resposta: A criança se
desenvolve por meio da experimentação, pela recepção de múltiplos estímulos que
o ambiente nos oferece diariamente, e muitas vezes, experimenta isso por meio
do brincar. Acredito, que hoje em dia, o uso da tecnologia tem sido um facilitador,
pois permite o acesso a muitas informações, antes escassas, contudo, impede a
criança, muitas vezes, de correr, conviver com outras crianças, brincar e se
expor aos estímulos que favorecem o desenvolvimento psicomotor. Infelizmente a
tecnologia tem transformado os “pequenos brincadores” em espectadores
de informações que ficam a maior
parte do dia no sofá de casa jogando vídeo game ou no tablet.
6 - Para que o terapeuta ocupacional
inclui atividades lúdicas no cotidiano de crianças visando seu desenvolvimento
psicomotor?
Resposta: O brincar é
intrínseco à criança e é por meio dele que ela se desenvolve. O brincar permite
o desenvolvimento de habilidades psicomotoras, sociais e emocionais, além
disso, é fundamental para a constituição do sujeito. Além destes benefícios, é
por meio do brincar que a relação terapeuta/paciente é estabelecida com a
criança, possibilitando assim, uma intervenção eficaz que alcance os objetivos
traçados.
7 - Quais as características de uma
criança que apresenta atraso no desenvolvimento motor, que podem levar os pais
a procurarem o auxílio de um terapeuta ocupacional?
Resposta: Crianças com atraso no
desenvolvimento psicomotor podem apresentar dificuldade de aprendizado
(desatenção, dificuldade para reconhecer cores, letras, números, formas),
coordenação motora grossa comprometida (quedas recorrentes, dificuldade para
manter o equilíbrio, dificuldade para brincar em parques e participar de
brincadeiras que envolvem habilidades motoras grossa); coordenação motora fina
comprometida (dificuldade para segurar o lápis, executar tarefas motoras mais
precisas, como, por exemplo, amarrar o tênis); dificuldade para realizar
atividades básicas de vida diária (utilizar banheiro, vestir parte superior e
inferior do corpo, comer, beber, tomar banho); interação social comprometida, dificuldade
em lidar com barulhos em ambientes com muita gente.
8 - De forma simplificada, a dislexia
pode ser considerada um distúrbio específico da aprendizagem que afeta as
habilidades necessárias para a aquisição e desenvolvimento dos processos de
leitura e escrita, decorrente de uma disfunção neurológica. Como que a TO pode
contribuir de forma consistente nos casos de dislexia?
Resposta: O Terapeuta Ocupacional
pode utilizar de diversos recursos no tratamento de um paciente com dislexia.
Contudo, mais uma vez, ressalto a importância de uma avaliação inicial, já que
cada caso apresenta uma particularidade e os planos de intervenção são
individualizados. No caso da dislexia, por se tratar de uma dificuldade de
leitura e escrita, pode-se utilizar intervenções ambientais, por exemplo, para
deixar o local de estudo mais tranquilo, com menos estímulos, facilitando assim
o processo de aprendizagem. Além disso, podemos realizar adaptações nas
tarefas, de forma que o conteúdo repassado para o aluno seja igual aos dos
demais alunos da sala de aula, contudo, utilizando outros recursos (materiais
mais concretos, como, por exemplo, palitos de picolé para aprender a contar).
9 - O desenvolvimento motor da criança
com paralisia cerebral se restringe à experimentação de padrões normais de
movimentos funcionais que são essenciais para o desenvolvimento motor normal.
De que forma a terapia ocupacional trabalha com crianças portadoras de
paralisia cerebral?
Resposta: A paralisia cerebral é
classificada de acordo com seu nível de gravidade, que varia de leve a grave, e
está relacionada ao comprometimento motor e cognitivo que a criança apresenta.
Sendo assim, a intervenção Terapêutica Ocupacional vai variar de acordo com as
sequelas do paciente, contudo, independente da patologia ou gravidade do caso,
o foco sempre será a estimulação e otimização do desempenho ocupacional destas
crianças nas atividades de vida diária (atividades básicas, instrumentais e
avançadas de vida diária).
10 - A síndrome de down é a forma mais
frequente de atraso psicomotor causada por uma anomalia cromossômica
microscopicamente demonstrável. É causada pela ocorrência de três (trissomia)
cromossomos 21, na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele. Como um
T.O. trabalha com essas crianças?
Resposta: Como já mencionado na
pergunta anterior, independente da patologia, o Terapeuta Ocupacional trabalha
com o desempenho ocupacional, ou seja, o foco não está mais na saúde/doença, e
sim na funcionalidade. O que eu quero dizer com isso é que a intervenção deve
considerar as particularidades das doenças, já que algumas patologias
apresentam características diferentes, que devem sim ser levadas em
consideração. Contudo, o foco será sempre a influência que esta doença tem no
desempenho ocupacional do sujeito. As crianças com Síndrome de Down, por
exemplo, geralmente apresentam alteração no tônus muscular que pode resultar em
uma limitação para vestir a roupa sozinha, ou brincar na hora do recreio com os
amigos na escola, sendo assim, o foco da intervenção será voltado para a
otimização das capacidades e habilidades motoras, com o intuito de melhorar seu
desempenho ocupacional e ampliar sua participação nas atividades citadas.
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